A cada eleição ressurge uma enxurrada de pesquisas e junto com elas a desconfiança: “é verdade?”, “Posso confiar?”, “É tudo mentira...”. Bem, é possível que tenham muitas pesquisas malfeitas por aí (e sequer feita). Mas aqui irei abordar especificamente as pesquisas que são registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o foco especial nas eleições para prefeito em 2012 e 2016 no primeiro turno, pois, este ano estamos vivenciando mais uma eleição municipal.

Em todo período eleitoral surge algum texto ou alguém para defender ou falar mal das pesquisas de intenção de voto. Em geral, quando defende este tipo de pesquisa vem explicando as metodologias usadas (o que é margem de erro, o que é nível de confiança) e apresentando algum caso, por exemplo: a pesquisa Datafolha (MG009942012), 4 dias antes da eleição para o cargo de prefeito de Belo Horizonte (capital do pão do queijo) em 2012. Nesta pesquisa foram entrevistadas 1280 pessoas, sendo uma amostra de 95% de nível de confiança e 3% de erro. Considerando os valores válidos nessa pesquisa o resultado foi: Marcio Lacerda 54,21%, Patrus Ananias 40,96%, Vanessa Portugal 2,4%, e Maria Consolação 2,4%. O resultado que emergiu das urnas foi: Marcio Lacerda 52,69%, Patrus Ananias 40,8%, Vanessa Portugal 1,55%, e Maria Consolação 4.25%. Considerando os 3% da margem de erros pode se afirmar que pesquisa acertou o resultado.

            Quando se é pra falar mal poucas vezes se discuti os parâmetros metodológicos das pesquisas. Normalmente é dado destaque aos casos de insucesso das pesquisas, como: a pesquisa IBOPE (PE000462012), 84 dias antes da eleição para o cargo de prefeito do Recife (maior capital em linha reta). Nesta pesquisa foram entrevistadas 805 pessoas, sendo uma amostra com 95% de nível de confiança e 3% de margem de erro. Considerando os valores válidos o resultado foi: Humberto Costa 52,6%, Mendonça Filho 26,3%, Daniel Pires 11,8%, Geraldo Júlio 6,6, Edna Costa e Jair Silva 1,3% cada. O resultado ao abrir as urnas foi: Humberto Costa 17,43%, Mendonça Filho 2,25%, Daniel Pires 27,65%, Geraldo Júlio 51,15%, Edna Costa 0,30% e Jair Silva 0,24%. Então posso afirmar (sem medo de errar) que esta pesquisa IBOPE errou o resultado.

Mas como a ideia aqui não é discutir os parâmetros metodológicos de qualquer pesquisa ou ficar nos causos para mostrar quanto pesquisa é boa ou quanto ela é ruim. Então vamos para pergunta: Pesquisas são capazes de retirar uma fotografia que retrata a realidade eleitoral? Para responder a essa pergunta vou utilizar a base de dados que reúne pesquisas realizadas por todo Brasil e registradas no TSE, esta base foi reunida e disponibilizada pelo https://pindograma.com.br. Para os resultados apresentados aqui exclui todas as pesquisas em que a margem de erro ou nível de confiança estava com indício de mal serem reportados, por exemplo, nível de confiança de 2% ou margem de 100%.

O gráfico abaixo sumariza a relação entre pesquisas eleitorais e resultados das eleições, considerados um total de 3306 pesquisas para eleições de 2012 e 2016. Cada ponto do gráfico representa o resultado para cada candidato testado na pesquisa no eixo x e seu respectivo resultado eleitoral no eixo y.

Gráfico 1: Relação entre o resultado das pesquisas eleitorais e o resultado das eleições

relacao

            Como podemos observar no gráfico acima, embora tenha alguns resultados desviantes, há uma relação linear positiva entre o resultado auferido por pesquisas e o voto depositado na urna por eleitores. Ou seja, quanto maior a porcentagem de intenção de voto maior a porcentagem de voto na urna. Mas para não ficarmos apenas com a análise visual, o gráfico abaixo apresenta o resultado de uma regressão linear, que pode ser usada para responder se pesquisas eleitorais têm capacidade preditiva. No modelo, foi considerado se a pesquisa (pergunta) era estimulada (1) ou espontânea (0), a porcentagem de indeciso na pesquisa, a quantidade dias antes da eleição na qual a pesquisa foi realizada, e a intenção de votos.

Gráfico (2):

regressao

            O primeiro ponto é que quando a pergunta é estimulada tende a ser menos precisa, em média os candidatos e apoiadores podem esperar menos do que o resultado que vai emergir das urnas. O que de certa forma é esperado uma vez que a pergunta estimulada induz o eleitor a pensar nos nomes disponíveis. Enquanto, a pergunta espontânea tende a ser mais fiel, pois, o eleitor normalmente indica sua preferência real ou aquela que veio primeiro na sua mente (isso não é tão simples assim, mas é por aí...).

            A quantidade de indecisos também depõe negativamente em relação ao resultado final, isso porque o número de indecisos tende a cair quando chegamos mais próximo da eleição e no dia da eleição. O que também ajuda a entender por que pesquisas feitas mais longe do dia da eleição são menos precisa em relação ao resultado da urna.

            Por fim, pesquisa de intensão de voto é capaz de revelar quão próximo ou distante está um candidato da vitória eleitoral? Olhando para o primeiro gráfico e para o resultado da regressão pode-se dizer que sim. Se consideramos o resultado da regressão pode-se afirmar que em média nesses dois anos eleitorais (2012 e 2016) a cada um 1% de intensão de voto obtido na pesquisa o candidato vai ter cerca de 0,89% de votos. Ou seja, as pesquisas eleitorais em média têm uma capacidade preditiva de quase 1% para 1%, assim, o resultado de uma pesquisa eleitoral é muito próximo do que vai emergir das urnas.